DA SÉRIE GRANDES CLÁSSICOS DA POESIA MUNDIAL • A verve visceral do maior nome da poesia feminina portuguesa.
A
Vida e a Morte
O
que é a vida e a morte
Aquela
infernal inimiga
A
vida é o sorriso
E
a morte da vida a guarida
A
morte tem os desgostos
A
vida tem os felizes
A
cova tem a tristeza
E
a vida tem as raízes
A
vida e a morte são
O
sorriso lisonjeiro
E
o amor tem o navio
E
o navio o marinheiro
•
Eu
…
Eu
sou a que no mundo anda perdida,
Eu
sou a que na vida não tem norte,
Sou
a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou
a crucificada … a dolorida …
Sombra
de névoa tênue e esvaecida,
E
que o destino amargo, triste e forte,
Impele
brutalmente para a morte!
Alma
de luto sempre incompreendida!…
Sou
aquela que passa e ninguém vê…
Sou
a que chamam triste sem o ser…
Sou
a que chora sem saber porquê…
Sou
talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém
que veio ao mundo pra me ver,
E
que nunca na vida me encontrou!
•
A
Tua Voz na Primavera
Manto
de seda azul, o céu reflete
Quanta
alegria na minha alma vai!
Tenho
os meus lábios úmidos: tomai
A
flor e o mel que a vida nos promete!
Sinfonia
de luz meu corpo não repete
O
ritmo e a cor dum mesmo beijo… olhai!
Iguala
o sol que sempre às ondas cai,
Sem
que a visão dos poentes se complete!
Meus
pequeninos seios cor-de-rosa,
Se
os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm
a firmeza elástica dos gamos…
Para
os teus beijos, sensual, flori!
E
amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só
me exalto e sou linda para ti!
•
Vulcões
Tudo
é frio e gelado. O gume dum punhal
Não
tem a lividez sinistra da montanha
Quando
a noite a inunda dum manto sem igual
De
neve branca e fria onde o luar se banha.
No
entanto que fogo, que lavas, a montanha
Oculta
no seu seio de lividez fatal!
Tudo
é quente lá dentro…e que paixão tamanha
A
fria neve envolve em seu vestido ideal!
No
gelo da indiferença ocultam-se as paixões
Como
no gelo frio do cume da montanha
Se
oculta a lava quente do seio dos vulcões…
Assim
quando eu te falo alegre, friamente,
Sem
um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
Paixão
palpita e ruge em mim doida e fremente!
Ahhhh...Florbela... amo essa amarga e sofredora mulher que colocava todas as suas entranhas em seus textos... tenho vários livros de Florbela e escrevi uma poesia em sua homenagem, publicada em 2016, no meu livro "Versos tristes, muita poesia e um sorriso!".
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